Ah a gente aqui ama tanto essa fase do cinema francês que vamos dedicar um post do blog para falar sobre ela, detalhadamente. Oui oui oui! Inclusive, temos uma camiseta da nouvelle vague para homenagear essa fase que foi uma das mais influentes da história do cinema, e inspirou inúmeros diretores a buscar caminhos mais originais para os seus filmes.

Mais bon...voilà! Traduz-se a expressão Nouvelle Vague literalmente como “Nova Onda”. O termo foi adotado por Françoise Giroud na revista L’Express, em 1958, ao se referir aos novos artistas que surgiam no cinema no final dos anos 50. Esse período (entre 50 e 60) é marcado por uma nova estética que foi criada na França, por jovens cinéfilos e politizados que se colocavam contra as regras pré-estabelecidas pelo cinema comercial da época, criticavam o próprio cinema francês vigente, mas principalmente as superproduções hollywoodianas caríssimas encomendadas pelos grandes estúdios.

Seus principais representantes eram jovens críticos, reunidos ou inspirados pela revista Cahiers du cinéma (cadernos de cinema), criada pelo teórico André Bazin e considerada a bíblia da crítica à sétima arte. Dentre eles estão nomes como: François Truffaut, Jean-Luc Godard, Claude Chabrol, Eric Rohmer, Jacques Rivette, Louis Malle, Alain Resnais, Agnès Varda et Jacques Demy. Depois de muito resenharem os filmes alheios, eles arregaçaram as mangas e fizeram as suas próprias obras cinematográficas. A contraproposta era produzir filmes mais baratos, que retratassem o cotidiano, não fossem estrelados por atores/atrizes famosos e tampouco seus figurinos fossem caros e extravagantes. Anna Karina cita em entrevista que inclusive elas usavam as próprias roupas nas gravações. Très original! Por essas e por outras, o período da nouvelle vague foi chamado de “cinema de autor”.

A intenção da estética aqui era justamente fugir do convencional. Filmes fluídos, narrativas sem linearidade, histórias focando o psicológico de seus personagens (muitas vezes com pouco diálogo), que eram seres imperfeitos, mais humanos e reais. Trazer, segundo eles, a sinceridade da vida, sem histórias de contos de fadas. A figura feminina começa a fugir do estereótipo das divas de Hollywood. Os filmes passam a ter mais apelo intelectual, visto que os diretores não precisavam mais atender aos caprichos comerciais dos produtores. A ideia agora era expor seus próprios pensamentos e traduzi-los de forma a expressar as angústias da vida cotidiana.

François Truffaut escreveu em um artigo chamado "uma certa tendência do cinema francês" em Les Cahiers du Cinéma em 1954, uma crítica sobre o conformismo do antigo "cinema de papai" e a superação da estética perfeita e dos belos diálogos. Ele condenou a lacuna entre a realidade e sua representação na tela, justamente pelo cinema pintar a vida perfeita que não era condizente com a realidade. Os diretores da nouvelle vague ousaram fazer um cinema mais autoral, com locações reais - como as ruas de Paris, com mensagens que expressassem sentimentos às vezes nada nobres, histórias autobiográficas, situações de cunho social, e é claro um espaço aberto para a improvisação! Et voilà, filme-se a vida! Então o cinema ganha características de naturalidade e simplicidade. Huuum, l'air sans effort! Oui oui oui é daí que surge também a vontade de vestir-se dessa forma tão despretensiosa que tem resquícios na mulher francesa ainda hoje.

Graças ao progresso técnico da época (câmera leve e barata, filme sensível à luz do dia permitindo filmar fora do estúdio, som sincronizado de qualidade), eles finalmente alcançam a direção. Os orçamentos costumavam ser modestos (Claude Chabrol roda "Le Beau Serge" graças a uma herança familiar) e esses diretores não tinham quase nenhuma experiência em dirigir, mas ainda assim, embarcam na aventura.

Nada disso importa, pois o público ficou muito entusiasmado com esses filmes de aparência amadora, tão diferentes dos filmes da época, que o sucesso foi imediato. O número de primeiros filmes dobra. Novos rostos aparecem nas telas como Jean-Paul Belmondo, Jeanne Moreau, Anna Karina, Jean-Claude Brialy, Bernadette Lafond, Jean-Pierre Léaud.

Na linguagem há a utilização de closes, cortes bruscos, montagem paralela, movimentos de câmera e câmera na mão, que acompanhavam os personagens. Um exemplo da estética que seria adotada, carregando muito o estilo de seu diretor, está em “à bout de souffle” (1960), de Jean-Luc Godard. Linearidade e eixo são quebrados, a narrativa não tem o ritmo comum. Esse é um exemplo clássico do estilo que pretendia ir contra as “regras” que tomavam conta da linguagem cinematográfica na época.

O filme Les 400 coups, de 1959 marca a estréia de Truffaut. Incompreendido pelos pais e atormentado na escola por seus problemas de disciplina, o personagem de Antoine acaba sendo inspirado na própria infância do diretor. Recebeu inúmeros prêmios e indicações, incluindo o Prêmio de Melhor Diretor no Festival de Cinema de Cannes, o Prêmio OCIC e uma indicação para a Palma de Ouro em 1959. O filme tem 4,1 milhões de admissões na França, tornando-se o mais bem sucedido filme de François Truffaut.

Em 1962, surge Jules et Jim. Esta terceira longa-metragem de François Truffaut conta a cativante história de amor e amizade entre três protagonistas, ao longo de vinte e cinco anos. Uma obra repleta de técnicas inovadoras de contar histórias e que percorre toda a gama de emoções, da alegria de viver à tragédia. Os personagens homônimos, Jules (Oskar Werner) e Jim (Henri Serre), boêmios da Belle Époque parisiense, são obcecados por uma escultura clássica representando uma mulher de sorriso enigmático. Quando uma mulher atraente e de espírito livre chamada Catherine (Jeanne Moreau), a personificação viva de seu ideal, colide com suas vidas, os melhores amigos são eletrificadas por sua força vital. Uma mulher pode amar dois homens ao mesmo tempo e não ficar entre eles? A amizade dos homens pode resistir à sua volatilidade? Este filme também é modernista no tratamento da imagem.

À bout de souffle é um filme de drama policial francês de 1960 escrito e dirigido por Jean-Luc Godard. Após roubar um carro em Marselha, Michel Poiccard (Paul Belmondo) viaja para Paris e encontra sua amiga americana Patricia Franchini (Jean Seaberg), tornando-se seu amante. Os protagonistas são acompanhados pelas câmeras em frequente movimento, caminhando pelas ruas da cidade luz. O filme é a estreia de Godard no longa e representa o avanço de Belmondo como ator.

Considerada uma das pioneiras da Nouvelle Vague, muitas vezes deixada de fora de listas sobre importantes autores do movimento, Agnès Varda apresenta uma extensa bagagem de filmes. “Cléo das 5 às 7” conta a história da cantora Cléo, que faz um exame para descobrir se está com câncer. O resultado sai em duas horas, então ela decide andar pelas ruas de Paris enquanto aguarda. Cheia de dúvidas sobre como deve agir diante da doença, acaba cruzando com Antoine, um jovem militar que está prestes a partir. 

Le Mepris é um filme de drama escrito e dirigido também por Jean-Luc Godard, baseado no romance italiano de mesmo nome escrito por Alberto Moravia. É estrelado por Brigitte Bardot, Michel Piccoli, Jack Palance e Giorgia Moll. Paul Javal (Michel Piccoli), um jovem dramaturgo francês que fez sucesso comercial em Roma, aceita uma oferta do vulgar produtor americano Jeremy Prokosch (Jack Palance), convidando-o a refazer o roteiro da adaptação cinematográfica da Odisseia do diretor alemão Fritz Lang. A esposa de Paul, Camille Javal (Brigitte Bardot), junta-se a ele na Cinecittà. Em uma atmosfera de palavras não-ditas e julgamentos de intenções, um sutil desconforto rapidamente se instala entre Paul e Camille. Em uma sequência, os personagens interpretados por Piccoli e Bardot vagam pelo apartamento, alternando entre discussões e reconciliações. Godard filmou a cena na forma de uma longa série de tomadas, com luz natural e quase em tempo real.

Pierrot le Fou é o décimo longa-metragem dirigido por Jean-Luc Godard, estrelado por Jean-Paul Belmondo e Anna Karina. O filme é baseado no romance Obsession escrito por Lionel White em 1962. A trama segue Ferdinand, um homem casado infeliz e recém-demitido, que foge de sua vida chata e vai para o Mar Mediterrâneo com Marianne, sua ex-namorada. Eles levam uma vida pouco ortodoxa, sempre em fuga, perseguidos pela polícia e por bandidos. Uma vez estabelecidos na Côte d'Azur, seu relacionamento torna-se tenso de uma maneira irreparável. Pierrot le fou apresenta personagens que olham diretamente para a câmera. O filme exibe muitas características do movimento pop art, constantemente fazendo referência a vários elementos da cultura de massa e empregando uma estética visual intencionalmente extravagante baseada em cores primárias brilhantes.

A Nouvelle Vague tornou-se influência para outros movimentos posteriores. Para falar de parte do legado, é válido citar um de seus principais autores, Jean-Luc Godard, “uma história deve ter um começo, um meio e um fim, mas não necessariamente nessa ordem.”

O grupo de autores responsável pelos filmes reconhecidos da época, trouxe um novo olhar sobre como pensar e fazer cinema não só na França, mas também no mundo todo. Os princípios da Nouvelle Vague são discutidos até hoje, e o movimento é tratado como um dos mais importantes para a história do cinema. oh là là là là!

E aí? Gostaram? ;)